Encerrou no dia 05 de julho (2019) o 14º Fórum Municipal de Educação Ambiental, e para a minha alegria fui convidado a realizar a palestra do último dia, com um tema bem interessante: Regime hídrico e formação de chuvas no Brasil. Entre os pontos da palestra, falei do ciclo hidrológico, das formas de precipitação, dos efeitos do El Niño e, sobre os rios voadores.
Rios voadores? Sim, isso mesmo que você leu, rios voadores, e este é o nosso tema para hoje.
Os “rios voadores” são cursos de água atmosféricos, invisíveis, formados por vapor de água, muitas vezes acompanhados por nuvens, impulsionados pelos ventos. Como eles funcionam?
No Oceano Atlântico, junto a faixa equatorial, devido a aos efeitos da radiação solar e temperatura, a água evapora com maior intensidade, carregando a atmosfera com umidade, formando os rios voadores. Ao mesmo tempo, junto a Amazônia, a intensa evapotranspiração da floresta e as consequentes chuvas convectivas que se formam na região provocam uma sucção dos ventos alíseos (correntes de ar de baixa altitude presentes junto a faixa equatorial), fazendo com que os rios voadores formados sobre o oceano se desloque para dentro do continente.
Essa umidade, ao passar sobre a Amazônia, sofre uma recirculação no ciclo hidrológico local, e ao retornar a atmosfera, recebe um acréscimo de umidade proveniente da floresta. Continuando sua jornada, os ventos alíseos seguem conduzindo os rios voadores em direção oeste, com o objetivo de cruzar o continente até o oceano.
Porém, nosso continente tem uma particularidade única, uma barreira natural chamada Cordilheiras dos Andes. Ao chegar nas cordilheiras, essa umidade recircula novamente, na forma de chuvas orográficas, ajudando a alimentar as cabeceiras dos rios amazônicos, e a nova umidade lançada no ar toma uma nova direção, devido a barreira, voltando para o Brasil e precipitando em outros estados brasileiros, principalmente o centro-oeste, sudeste e sul do país, alimentando os reservatórios de água desses estados, agora na forma de chuvas frontais.
Para termos uma ideia do quanto de água compõe os rios voadores, basta dizer que uma árvore de grande porte pode bombear do solo para a atmosfera de 300 até 1.000 litros (ou mais) de água em um único dia. Só para efeito de comparação, a média de consumo diário, no Brasil, é de 132 litros por habitante. Estima-se que existam 600 bilhões de árvores com diâmetro de tronco acima de 10 cm na Amazônia que contribuem efetivamente para lançar na atmosfera a umidade que ajuda a abastecer os rios voadores.
O Brasil é privilegiado em termos de ocorrências de chuva. E deve seu papel de destaque como um grande exportador de produtos agrícolas ao fato de que, por aqui, cai mais chuva do que em qualquer outro país do mundo. Comparado com outros gigantes da produção agrícola e pecuária, o Brasil possui apenas 5% de suas terras produtivas dotadas de alguma forma de irrigação mecanizada. Nos outros 95%, de onde sai 84% da produção agrícola, os plantios se beneficiam da grande quantidade de chuva que se precipita no Brasil.
Por isso a importância das matas e florestas junto aos agroecossistemas. Boa parte da água disponível no nosso estado do RS é proveniente desses rios voadores, ou seja, umidade que se formou lá na linha do Equador, atravessou o Brasil, recirculou algumas vezes no ciclo hidrológico e veio precipitar aqui no sul.
Desta maneira, quando for beber seu próximo copo de água, ou irrigar sua produção, lembre-se que esta disponibilidade fantástica de água que possuímos é devido a todo esse fluxo de umidade na atmosfera, e que quem bombeia essa água toda são as nossas florestas e matas, principalmente a Amazônia.
Quem tiver interesse em mais informações, aconselho o site do Projeto Rios Voadores no endereço http://riosvoadores.com.br/ .
Tenham uma boa semana e até a próxima. E não se esqueçam de visitar a minha página em crisnunessantos.pro.br
Cristiano Nunes dos Santos
Professor do IFFar – Campus Santo Augusto
Post da Coluna Agricultura em Foco no site Querência Online - Rios Voadores
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