Alguma vez você parou para pensar sobre a força da chuva? Mas não pelo ponto de vista da quantidade que está chovendo naquele determinado instante. Você já parou para pensar sobre a força da chuva com relação aos efeitos da erosão hídrica?
Quando falamos sobre erosão, estamos falando indiretamente sobre a força da chuva. Essa força é chamada de Erosividade, e conceitualmente é a capacidade potencial de uma chuva provocar erosão.
Quando as gotas de chuva chegam até o solo, a força gerada pela queda delas causa um rompimento das partículas do solo, chamada de desagregação. Conforme o solo perde a capacidade de infiltração, a água da chuva tende a escoar sobre o solo, e carregam as partículas de solo que foram desagregadas, depositando-as nas partes mais baixas do terreno, muitas vezes nos leitos de arroios, rios, dentro de açudes, provocando um evento conhecido como assoreamento.
Toda e qualquer chuva possui força erosiva, mas esta força muda conforme o tipo de chuva (lembram que discutimos em outro texto sobre as chuvas convectivas e frontais?).
A erosividade das chuvas é uma característica sobre a qual não é possível exercer qualquer tipo de controle. A capacidade das chuvas em provocar erosão é dependente de suas características físicas como intensidade, tamanho e velocidade terminal das gotas. Estas características definem a energia cinética no momento do impacto contra o solo. Outras características temporais como duração e frequência são também importantes na definição do potencial erosivo das chuvas de uma região. Além da intensidade e energia cinética também é relevante a duração da chuva, que é o complemento da intensidade e a combinação dos dois determina a chuva total. Dependendo da duração e da intensidade da chuva, os efeitos sobre as perdas de solo serão mais ou menos significativos.
Normalmente, as chuvas convectivas possuem maior erosividade do que as chuvas frontais, e o motivo disso são as diferenças na intensidade da chuva. A intensidade da chuva é calculada pela quantidade de precipitação e o tempo total da precipitação.
Por exemplo: duas chuvas de 50 mm (milímetros). Uma ocorreu no verão e durou 02 horas, a outra ocorreu no inverno e durou 20 horas (sabe aqueles dias que parece que não vai parar de chover?). Apesar da quantidade de chuva ser igual, a primeira tem uma intensidade média de 25 mm/h (milímetros por hora), e a segunda a intensidade média é de 2,5 mm/h.
A chuva com intensidade média de 25 mm/h tem um poder erosivo muito mais elevado, sem falar no fato que existe a possibilidade do solo nem conseguir absorver ela (tem estudos que determinam a capacidade de infiltração de um solo argiloso em 05 mm/h). Em resumo, a chuva é mais forte, infiltra só 20% neste exemplo, e 80% da chuva vai escoar e carregar o solo da lavoura.
Para calcularmos a erosividade, utilizamos os valores da quantidade de chuva e da sua intensidade máxima, ou seja, o momento em que a intensidade foi a mais alta. O resultado é um valor expresso em MJ (megajoules).
Em 2008, ao concluir meu doutorado, publiquei um estudo com a determinação dos valores de erosividade para todo o estado do RS, intitulado de “El Niño, La Niña e a erosividade das chuvas no Estado do Rio Grande do Sul”, e pude constatar que a região noroeste do estado é a que possui os maiores valores de erosividade no RS.
É impossível modificar o perfil de uma chuva, mas conhecendo as chuvas e o seu comportamento erosivo, podemos minimizar os processos de erosão, garantindo a produtividade das lavouras. Para isso temos hoje a Sistema de Plantio Direto, que entre suas várias etapas inclui a manutenção de cobertura do solo, com o objetivo de servir como uma proteção para a força erosiva da chuva.
Ainda, em períodos de El Niño ou La Niña, a força erosiva das chuvas também muda, normalmente ficando mais forte quando estamos com El Niño.
O que podemos concluir, é que apesar de sermos agraciados com um regime pluviométrico em que temos chuva durante todo o ano, isso não garante que teremos a mesma quantidade de água precipitada, armazenada no solo, e, precisamos nos preocupar com a erosão hídrica durante os 12 meses do ano.
Nos próximos textos, vamos discutir um pouco mais sobre os efeitos da erosão hídrica, seus componentes (chuva, solo, topografia, cobertura vegetal e práticas conservacionistas) e como a erosividade se comporta no nosso estado e na nossa região.
Tenham uma boa semana e até a próxima. E não se esqueçam de visitar a minha página em crisnunessantos.pro.br
Cristiano Nunes dos Santos
Professor do IFFar – Campus Santo Augusto
Post da Coluna Agricultura em Foco no site Querência Online - Erosividade: a força de uma chuva
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